Por Ela
- Vc tem marido, namorado? Não, porque se vc troca de namorado como troca de emprego, ce tá ferrada, viu? (oi?)
- Mas vc sabe o que vc quer? (não, sou uma pessoa confuuuuuusaaa!) Tá afim de
trabalhar mesmo? (não, vim aqui tomar seu tempo, bobinho! Adoro novas amizades!) Não, porque esse povo da comunicação é assim, né? Não gosta de trabalhar sábado, acha que tem que chegar 8h e sair 18h e a visão empresarial é que é tudo um bando de maconheiro que não sabe merda nenhuma. (ah, é mesmo! Acende meu back aqui, por falar nisso?)
- Sete anos de experiência? Mas exatamente no quê? (Vc sabe ler? Meu currículo tá na sua mão! É, é esse papelzinho aí, cheio de letrinhas e empresas interessantes e experiência variada, tá vendo?) Não, porque eu vejo que vc tem uma lista muito ‘didática’ (hein? O que é ter um currículo didático? Seja mais ‘didático’, por favor?),
mas aqui é que vc vai ter a oportunidade de crescer mesmo, com um projeto seu, colocar a mão na massa, ser alguém na vida. (porque até hoje eu era uma perdedora, né? Que bom que conheci vc!!!)- Como vc encara seu futuro? (feliz, bem longe de vc!) Não, porque eu quero uma pessoa que pense a vida a longo prazo, que não seja imediatista. (Cê quer dizer que paga mal, né? Vou ter que esperar quantas décadas pra ganhar o justo?) Porque hoje todo mundo quer ganhar dinheiro sem trabalhar, né? (Ah, sim, seria ótimo! Mas eu sei que é sonho...) Nego acha que só porque teve uma base ‘livresca’ (hein?) boa sabe tudo. E eu acredito que a gente só aprende se der duro, se fugir dessa mediocridade celetista, é dando sangue mesmo... As pessoas que conheço hoje que se deram bem se mataram de trabalhar. (Gente, mas eu sou mesmo um fracasso! Porque tudo que consegui me matando foram olheiras profundas e mau-humor...) Vc tb pode se dar bem, pode ser uma pessoa de sucesso, se quiser (é, porque eu sou muito fracassada, né? Ainda bem que vc vai me salvar! Aleluia!)
Esse foi o início de uma bela
‘entrevista de emprego’.
E, sabe, eu odeio gente que tenta valorizar a empresa diminuido o candidato que foi ali procurar trabalho honesto, ciente de que tá precisando. Mas odeio mais ainda essa gente sugadora que quer enfiar na cabeça da gente que a vida é SÓ trabalho. Que vida pessoal, família, lazer, diversão, são luxos de gente vagabunda, medíocre, que não quer crescer, que nunca vai alcançar o sucesso. Gente fracassada, né? Como eu.
Mas, sabe? Gente 'fracassada' morre aos 80, 90 anos, de morte ‘morrida’, não ‘matada’. De velho, como disse a mãe da
Rê.
Gente 'fracassada' tem uma família, que tem muito mais chances de ser feliz, unida.
Gente 'fracassada' participa da criação dos filhos e ajuda a moldar-lhes o caráter. Tem tempo pra isso, né?
Gente 'fracassada' pode até não conhecer Paris, NY ou Londres, mas tem causos e mais causos pra contar do feriadinho delicioso passado ali em Dunas de Itaúnas, em Cetiba, em Brumadinho, numa cachoeira qualquer...
Gente 'fracassada' tem amigos que não se resumem às pessoas do trabalho! E, o melhor, tem tempo de visitar esses amigos, que ampliam o horizonte da gente, mostrando outras visões de vida, tão diferentes!...
Gente 'fracassada' pode não ter o carro do ano, mas tem um carango que já te levou pra conhecer lugares lindos, que correu pro hospital pro seu filho nascer, que já balançou muito o banco de trás em ‘amassos’ divertidos porque a grana não dava sempre pro Motel...
Gente 'fracassada' pode não se vestir de Maria Filó ou Brooksfield, mas vai na Renner e compra o mesmo estilo de roupa, pra pagar de 5x e fica feliz, feliz. Ou faz aqueeeele bazar delicioso entre amigas, regado a suco, bolo e bobagens, e troca tudo o que puder.
Gente 'fracassada' não tem uma conta na Suíça, mas o dinheiro rende muito mais do que os percentuais de banco! Porque se aperta daqui, aperta de lá, a gente faz de um tudo que não imaginava ser possível. Se pergunta: ‘como foi que eu consegui’? E essa sensação de ter conseguido com esforço é tão boa! Paga tudo e ainda dá presente pros amigos, faz aquele churrasco na laje no findi e faz vaquinha pro casamento do fulano!
Mas, o mais importante pra mim, é perceber uma coisa: que toda época tem os seus ‘reveses’, econômicos, financeiros, político, religiosos... Mas as pessoas conseguiam levar suas vidas, conseguiam crescer, prosperar. “
Ah, mas os tempos eram outros, sem comparação!”. Não, leitor(a). Os tempos tinham suas dificuldades também... Os
valores sim, esses
eram outros.
Esses valores não diziam que só com muito trabalho e o ‘
saber abrir mão de algumas coisas’ é que você ia ser alguém na vida, não. Você não precisa abrir mão de nada que goste. Acredite - e aproveite, porque o tempo não volta.
Esses valores diziam que para você ser feliz, bastava uma única coisa: uma
boa idéia, acompanhada de
amor. Por aquilo que se faz, por aqueles que lhe ajudam a fazer o que quiser. Seja família, amigos, parceiros, colegas de trabalho. Amor pelo próprio trabalho. Amor próprio enfim.

Era assim que as pessoas cresciam. Era assim que as pessoas 'davam certo'.
Bom, é claro que ‘dar certo’ varia muito de pessoa pra pessoa e, com certeza, há aquelas que estão lendo isso agora e me achando medíocre também. Pra essas eu digo: Drummond entende o que digo!
"Eu não vi o mar.
Não sei se o mar é bonito. Não sei se ele é bravo.
O mar não me importa. Eu vi a lagoa.
A lagoa, sim. A lagoa é grande e calma também.
Na chuva de cores da tarde que explode, a lagoa brilha.
A lagoa se pintade todas as cores.
Eu não vi o mar.Eu vi a lagoa...
Lagoa, de Carlos Drummond de Andrade
ESSE 'dar certo' depende de quão ambicioso você é e da quantidade de coisas que precisa para lhe fazerem feliz. Eu não preciso do mar, tenho a lagoa, e isso me basta para viver bem...
Milhões de pessoas discordam, eu sei. Mas não quero sofrer de Normose (lembram do texto?), não quero ter a obrigação de fazer o que todos esperam o que eu faça, mas ter a alegria de fazer o que vai me fazer sentir bem comigo... Se consigo? Bom, o importante é que tô tentando...
De mim, posso dizer uma coisa: ganhando ou não a vaga, a única coisa que faria seria agradecer a oportunidade. Porque eu, como legítima ‘fracassada’, quero ter tempo de
viver! Não apenas
existir...
Que vivam as diferenças!
Bjos a todos...